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Entrevista a Johannes Krütten da Clemens

17/12/2021

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“A chave está em combinações de diferentes máquinas”

Como vê o mercado português e como se adapta ao nosso país o produto da Clemens?

Em termos gerais, é um mercado interessante. Tem crescido, sobretudo nos últimos anos. Durante a crise financeira de 2008 existiram alguns problemas, mas a indústria do vinho fortaleceu-se. Para nós que temos um produto num segmento de preço alto, era, até há alguns anos, difícil entrar no mercado, mas é algo que tem vindo a mudar. As nossas máquinas têm a qualidade de serem adaptáveis a diferentes mercados devido ao sistema modular, estilo Lego, que nos permite escolher as funcionalidades indicadas para cada vinha. Isto é muito importante num mercado como o português onde encontramos condições muito diferentes consoante a zona geográfica.

E poderemos ver no futuro máquinas da Clemens ainda mais adaptadas às várias regiões do mercado português?
Penso que essa questão se coloca não apenas em relação à oferta de produto mas também à forma como são operados os equipamentos. As áreas de vinha são cada vez maiores, as estruturas mudaram, existe a tendência crescente para o modo de produção biológico e é cada vez mais difícil encontrar operadores para os tratores. Por isso, achamos que a grande alteração estará sobretudo na forma de trabalhar. Na nossa opinião a chave está em combinações de diferentes máquinas que consigam fazer diferentes trabalhos. Claro que é necessário ter em conta determinadas condicionantes, como por exemplo no Douro onde quase não existe espaço para viragens, e aí temos de encontrar soluções para realizar a tarefa. Mas a verdade é que é cada vez mais difícil para o operador conseguir operar tantas funções ao mesmo tempo. Por isso, a nossa função primordial nesta fase deve ser encontrar algumas ferramentas de apoio que se adaptem a todos os equipamentos e que ajudem os operadores. O ajuste automático, por exemplo, é algo que temos vindo a desenvolver há já alguns anos.

 

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Nesse sentido, está a Clemens a caminhar para uma solução automatizada ou robotizada?
Temos vindo a trabalhar com algumas empresas especializadas nessas áreas. Não somos nem um fabricante de tratores nem de robots mas temos as soluções certas para serem adaptadas a essas máquinas. Nós precisamos de um porta-máquinas - se é um trator ou um robot, para nós não é importante. Vemos, no entanto, um interesse crescente nos robots para determinadas áreas e regiões.

Como é que a Clemens vê o futuro dos equipamentos para a vinha?
Penso que há um futuro de crescimento. Hoje em dia se comprar uma garrafa de vinho há uma maior consciencialização do público relativamente à origem biológica do produto. A tendência que vemos, por exemplo, nos hortícolas ou na carne, está a acontecer também no vinho. Assim, os produtores também terão de acompanhar esta procura e a resposta está na forma original de “trabalhar” a vinha, ou seja, mecânica. Esse é o negócio em que a Clemens está há 70 anos.

Outra área que já está em expansão são os softwares de apoio à gestão. Com as vinhas cada vez mais extensas os gestores têm mais área para gerir. Em Portugal existem empresas com vinhas em diferentes regiões. A maior dificuldade que vemos é conseguir ter uma visão global de tudo ao mesmo tempo, porque não é possível estar em diferentes locais no mesmo momento. Daí que tenhamos iniciado uma parceria com uma empresa de software de gestão da vinha. É uma plataforma de comunicação que permite ao gestor manter-se a par de todos os trabalhos realizados, desde o trabalho com os tratores e as máquinas, custos esperados, documentação, até à previsão do tempo, ou prevenção de doenças. Isto é uma tendência que estará cada vez mais presente no futuro. Com o acesso a esta informação o gestor pode tomar decisões ou procurar assistência estando onde estiver.

Desde o seu início que a Clemens se especializou em soluções mecânicas. Recentemente, têm surgido, por exemplo, soluções que recorrem a outras formas de controlar as infestantes, como o recurso à eletricidade. Poderemos ver a gama da marca a alargar-se para este tipo de soluções?
Mantemos os olhos abertos para as diferentes tecnologias que vão surgindo no mercado e temos procurado soluções que nos permitam reduzir a mobilização, por exemplo. Olhando para a questão da eletricidade como forma de controlar as infestantes, é uma solução que necessita de uma quantidade enorme de energia para realizar o trabalho e isso significa máquinas pesadas. Talvez no futuro se torne mais eficiente, como os carros elétricos, e pode vir a ser interessante, mas nós temos de aprender e estudar mais esse tipo de soluções porque queremos também saber o que acontece depois, por exemplo, com a microbiologia do solo.

Existe algum estudo académico que evidencie a diferença na saúde e produtividade de uma vinha mantida através dos vossos equipamentos ou através de fitofarmacêuticos?
Temos alguns realizados por diferentes universidades. Por exemplo, num dos mais recentes, realizado no Reino Unido, olharam para parâmetros como o crescimento, a saúde e a qualidade da colheita numa vinha mantida com os nossos equipamentos. Para não ser exaustivo, por exemplo, no que se refere à qualidade não encontraram qualquer problema, aliás, quando esta não era idêntica, era até superior visto que não eram detetados quaisquer resíduos de produtos químicos no vinho. Num outro realizado nos Países Baixos, que olhou para o crescimento das uvas, concluíram que quando tratadas com químicos existia uma paragem no crescimento, o que não acontecia onde o controlo das infestantes era feito de forma mecânica.

Como foi o último ano e meio para a Clemens e como pensa que será o próximo ano tendo em conta a escassez de matéria prima?
Diria que a situação é desafiante. Existe uma escassez enorme de diferentes componentes no mercado, o que nos obriga a preparar tudo com muito maior antecedência. A maioria da nossa produção está centrada na Alemanha mas algumas peças vêm de fora. O intercepas Radius, por exemplo, é produzido 95% por nós e, nesse caso, é mais fácil de gerir. Noutros equipamentos tem sido mais desafiante. Isto obriga-nos a pensar não apenas na produção de 2022 mas também na de 2023. E temos de investir hoje em material para equipamentos para os quais ainda não temos encomendas. Fazemos o melhor para estar preparados mas não sabemos o que vai acontecer. Queremos ter a certeza que os nossos clientes recebem as máquinas a tempo, que a nossa produção continua a trabalhar, e que temos peças de substituição para o próximo ano.

Onde gostaria de ver a Clemens daqui a cinco anos?
Com o mesmo carácter, perto dos seus clientes. Queremos crescer com os nossos clientes. Observamos que existe uma procura crescente e, por isso, claro que existirá crescimento mas não o vemos longe de quem nos suporta. Por isso, continuaremos a ser uma empresa de soluções mecânicas e biológicas. Queremos também explorar alguns mercados, como a América do Sul.

São parceiros da Jopauto há já seis anos. Como tem corrido esta parceria?
A Jopauto insere-se na filosofia da Clemens. Sendo duas empresas familiares, gostamos de trabalhar de forma próxima dos nossos parceiros. Não queremos relações superficiais meramente comerciais, queremos compromissos sérios e aprofundados. Os nossos clientes têm de compreender a tecnologia que utilizamos e, assim, não se trata apenas de vender mas também do serviço que acompanha a venda. A Jopauto entende na perfeição a nossa filosofia e o nosso produto. Se existir algum problema com um equipamento, eles são capazes de dar uma resposta imediata. Isto é muito importante para nós.

 

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