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Opinião | Comprar um trator novo ou usado?

30/05/2021

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Porquê tanta procura por usados de 15-30 anos?

se forem analisadas as estatísticas de venda de tratores usados* dois fatores chamam a atenção:
A venda de tratores usados triplica, ano após ano, em relação à venda de tratores novos; a maior percentagem de tratores usados vendidos concentra-se em veículos com mais de 20 anos.

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Na tabela em anexo (Tabela 1) observa-se a mesma tendência nos dois últimos anos e a transferência de tratores usados quase triplica em face das novas matriculações (Esta tabela foi elaborada com números próprios a partir das cifras oficiais da ROMA (Registros Oficiales de Maquinaria Agrícola).

Idade da 2ª mão
A maioria das transações realizou-se entre tratores com mais de 20 anos (13.254 em 2020; 17.601 em 2019; 16.734 em 2018)
Em Itália, os valores não andam longe e, por cada trator novo, vendem-se dois usados; 20.000 tratores novos para 40.000 usados. França também tem percentagens novos-usados similares. O que explica esta tendência? Está claro que, se se vendem tanto é porque existe procura, o quer dizer que é um produto procurado pelos compradores. Porquê? Talvez porque tenhamos que reconhecer que são tratores eficientes, capazes de fazer o mesmo trabalho que os seus jovens herdeiros que têm entre 15 e 25 anos a menos. Porém, há um outro fenómeno que chama a atenção: não são “especialmente baratos”.
Ao analisar os preços praticados no mercado de segunda mão, comprova-se que estão próximos dos preços pelos quais foram vendidos em novos…quase não perderam valor, mas, apesar disso, a sua vantagem competitiva está na enorme diferença que, ainda assim, têm em relação ao preço dos tratores novos.

Tratores usados de 15-30 anos
Neste artigo não se pretende “ressuscitar” os tratores “avôs”, as velhas glórias que lideraram a “tratorização” da agricultura espanhola; essas velhas glórias estão bem onde estão. Falamos, antes, dos tratores que se desenharam nos anos 80 e 90 e que se fabricaram na última década do século XX e nos primeiros anos do XXI, ou seja, dos que tratores que foram fabricados e vendidos entre 1990 e 2005. Trata-se de tratores com um conceito “moderno”, com cabines e assentos que pouco têm a invejar aos atuais, com boas embraiagens e transmissões sob carga, tratores, muitos deles já com suspensão e com bons hidráulicos.

Porque estão tão bem cotados?
Em muitos casos, observa-se que estes tratores estão a ser vendidos a preços “semelhantes” aos de venda quando eram novos. Hoje, estes tratores, com mais de 8.000 horas, e entre 130 e 150 CV, têm preços que, em alguns casos, estão entre os 45.000 e os 55.000€ quando, no seu tempo, eram vendidos por 50.000-65.000€...

 

A opinião dos representantes de marcas de tratores

Fomos ouvir três representantes de marcas de tratores em Portugal, que descreveram o cenário no nosso país e nos deram o seu ponto de vista sobre questões mais técnicas relacionadas com o envelhecimento e a vida útil de uma máquina: Fernando Garcia, Presidente da Divisão de Máquinas Agrícolas e Industriais da Associação do Comércio Automóvel De Portugal (ACAP)e Diretor Geral da CNH Portugal, Arnaldo Caeiro, Diretor Geral / CEO SDF Portugal, e João Pimenta, Diretor Geral Ascendum Agro.

 

Portugal não é Espanha

Em Espanha, “a venda de tratores usados triplica, ano após ano, em relação à venda de tratores novos; a maior percentagem de tratores usados vendidos concentra-se em veículos com mais de 20 anos”. Itália e França registaram cifras parecidas. Já em Portugal, Arnaldo Caeiro e Fernando Garcia revelam que “de acordo com os registos de transferência de propriedade (fonte ACAP), a proporção entre a venda de tratores novos a venda de tratores usados foi de 1:1,49 em 2020, e de 1:1,43 em 2019”, portanto, muito abaixo dos valores espanhóis. João Pimenta ressalva que “eem Portugal não existe algo parecido com a publicação espanhola MOMA que compilava informação sobre tratores usados. Hoje existe a TractorOcasion, para além de que o Ministério de Agricultura Espanhol fornece informação estatística detalhada. As mudanças de proprietário não aumentam a frota e normalmente essa mudança tende a implicar a compra de um novo por parte de quem vende”.

Outra grande diferença entre os dois mercados é a potência dos tratores usados procurados num e noutro país. Enquanto que Heliodoro Catalán se refere no artigo, sobretudo, a “tratores, com mais de 8.000 horas, e entre 130 e 150 CV”, no mercado português, explica Arnaldo Caeiro, “considerando que em Portugal 73 % das explorações agrícolas têm área inferior a 5 ha, os tratores usados com maior procura, e mais valorizados, são os modelos até 100 CV”. Já relativamente à desvalorização, “esta é maior nos modelos com potência superior aos 120 CV devido à menor procura no mercado de usados”.
Finalmente, Arnaldo Caeiro abordou o impacto dos apoios. “Em Portugal a venda de tratores usados também está diretamente relacionada com a disponibilidade de verbas nos programas de apoio ao investimento na agricultura (PDR2020), ou seja, nos períodos em que a disponibilidade de verbas permite apoiar financeiramente a compra de tratores novos, a venda de tratores usados tende a diminuir em proporção”.

Tratores com 15 a 30 anos? Sim, mas…
Olhando então para questões mais técnicas, nomeadamente sobre a passagem do tempo pelos tratores, João Pimenta começa por explicar que “o que define o envelhecimento e a vida útil de uma máquina é o número de ciclos a que ela esteve sujeita devido a um fenómeno chamado “fadiga” dos materiais. Para além da fadiga que altera as propriedades mecânicas dos materiais, existem dois outros fenómenos que também alteram as propriedades geométricas e a consequente compatibilidade com os restantes componentes que interagem, que são o desgaste superficial e a corrosão química. Estes fenómenos abrangem todos os materiais, tais como os principais órgãos de um trator (motor, caixa, eixos e semieixos, tubagens, borrachas, bombas hidráulicas, pistons e cilindros hidráulicos, etc). Um trator com 15 a 30 anos que tenha trabalhado em média 800 h/ano terá alcançado facilmente entre as 12.000 e as 24.000 horas de trabalho e portanto, sujeito a um número considerável de ciclos de fadiga (fenómeno não visível a olho nu) e facilmente apresenta problemas de vedação e retenção de fluidos (vedantes, juntas, retentores, borrachas, ainda que tenha sido muito bem mantido conforme recomendações de fábrica.
Uma revisão completa ao trator, implica a inspeção dos órgãos internos, que para além de bastante onerosa em mão de obra, também se pode revelar igualmente onerosa em peças de substituição, coisa que poucos ou nenhuns fazem. Mesmo assim, existe sempre o risco de falha súbita de um órgão vital devida a fadiga, esta não visível à vista desarmada.
Não é difícil antever que um trator com esta idade e caso tenha trabalhado normalmente ao longo da sua vida, possa trazer uma desagradável “surpresa” escondida que, a somar ao preço de compra, pode revelar-se afinal numa aposta errada.
Apenas, sabendo o histórico do trator, quem o operou, como foi mantido, quais as intercorrências, podem sustentar algum conforto a quem compra. Escusado será dizer que estes casos são a minoria para não dizer raros”, finalizou.
Já Arnaldo Caeiro, destaca que “se considerarmos a média de horas de trabalho, inferior a 300 h/ano, os tratores agrícolas quando atingem um número de horas de operação que justifica a troca por um novo é, na grande maioria dos casos, superior a 15 anos. Esta situação não se aplica às explorações empresariais de agricultura intensiva (culturas horto-industriais, fruticultura, viticultura e olival) onde os tratores trabalham mais de 1.000 horas ano e são usualmente trocados entre os 6 e os 8 anos”.

 

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