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Uma coleção em busca de um museu

01/06/2019

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António Francisco Carapinha era natural de Beja e dedicava-se à prestação de serviços agrícolas. Entrou neste ramo numa época que foi de transição. Para as tarefas que eram realizadas exclusivamente por mão-de-obra humana, ou com recurso a tração animal, foram surgindo soluções mecanizadas. António Carapinha identificou a oportunidade e aos poucos foi investindo em equipamentos. O seu parque estava dirigido sobretudo aos cereais de sequeiro, a cultura dominante à época na região do Baixo Alentejo, para realizar todas as operações desde a sementeira até à debulha. Associada à atividade de alugador veio depois a oficina e a comercialização de máquinas e alfaias.


O interesse pelo colecionismo   
À medida que o uso de máquinas se generalizou, a oficina foi ganhando maior peso. E com a tecnologia a evoluir a passos largos, os primeiros tratores, as primeiras debulhadoras, as primeiras alfaias, foram ficando no armazém dos fundos das casas agrícolas. António Carapinha via nestas máquinas um interesse que outros não viam. António e Ana Carapinha, respetivamente filho e neta de António Francisco Carapinha, são hoje os proprietários e cuidadores desta coleção de máquinas agrícolas antigas. “O meu avô fazia prestação de serviços agrícolas. Com o avançar da idade, quando começou a dedicar-se menos aos trabalhos de campo e à oficina, começou a interessar-se mais pelo colecionismo”, explicou Ana Carapinha. Por representarem a memória de um tempo que já ia distante, foi mantendo as suas máquinas antigas conservadas e foi adquirindo outras quando as oportunidades surgiram. “São peças com que ele lidou toda a vida porque assistiu à mecanização desta zona do Alentejo”, acrescentou Ana Carapinha. Até 2012, ano do seu falecimento, António Francisco Carapinha foi compondo a coleção. A última compra, a que se seguiu o trabalho de restauro, foi o Ferguson TE20.  
 

 

 

 

 

Tornar a coleção acessível ao público
Peça por peça, a coleção foi fazendo algumas aparições em público, em especial na Ovibeja e na RuralBeja. Mas as deslocações a estes certames não eram a melhor coisa para a saúde destas máquinas. Ao carregar e descarregar, iam inevitavelmente sofrendo alguns estragos.
É por isso que ultimamente não têm saído.
“O objetivo é que a coleção se mantenha conservada, se possível com um nível de restauro mais perfeito e acessível a quem a queira ver”. É desta forma que Ana sintetiza o que pretende para este legado que vem do seu avô.
A empreitada não tem sido propriamente fácil. “A ideia de se fazer um museu já tem mais de 20 anos”, adiantou. “Houve projetos entregues na Câmara de Beja, mas com a mudança dos executivos era preciso retomar sempre os contactos”, e isso fez com que a intenção nunca se concretizasse.

 

Peças pequenas em Castro verde
As peças de maior dimensão estão guardadas num armazém em Beja e deverão ser transferidas para uma ala da empresa Vulcabeja, que é dirigida por António Carapinha.
As peças mais pequenas estão confiadas ao Museu da Ruralidade, sediado em Entradas, Castro Verde. A ideia é reunir o que está disperso e criar uma área de visita na Vulcabeja. Outra possibilidade seria estabelecer uma parceria com uma entidade que ajudasse a suportar o esforço associado ao restauro e conservação destas máquinas e que tornasse a coleção acessível ao público.

 

Associar à coleção um museu virtual
A criação de um museu virtual onde os utilizadores possam consultar as informações relativas a cada peça é outra hipótese em aberto. Mas, para já, a prioridade é ir cuidando de cada peça, para que a coleção se mantenha em boas condições. E insistir na busca de parcerias. “Se as coisas ficassem ligadas a uma entidade oficial, haveria uma continuidade”, concluiu Ana Carapinha.

 

 

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