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A visão dos representantes das marcas no 2º e 3º trimestre de 2024

09/10/2024

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Aos especialistas na área dos tratores colocámos as seguintes questões:

1 - Que balanço faz do segundo e terceiro trimestre do mercado de tratores/equipamentos agrícolas em Portugal (análise por segmentos de potência e eventuais diferenças regionais significativas)?

2 - Que evolução espera no mercado de tratores/equipamentos em Portugal nos próximos seis meses e quais são os principais motivos por trás dessas expectativas?

3 - Qual é a sua análise sobre a tendência de queda contínua no índice geral do clima empresarial para a indústria de maquinaria agrícola na Europa (CEMA)?

Tratores
As análises de especialistas no setor de tratores e equipamentos agrícolas em Portugal:

Bruno Pignatelli, Gerente da Tractores Ibéricos (Grupo Auto-Industrial)
1 - O Q2 (bem como o mês de Julho e Agosto) seguiu a tendência do Q1 ou seja, uma subida generalizada do mercado até 31/08 de 27,2% . Por escalões de potência, segundo a divisão a que a nossa representada segue, temos o seguinte:
• <=60cv – subida de 5,6%
• 61 até 100 cv – subida de 87,5%
• 101 até 140 cv – subida de 40,0%
• 141 até 180 cv – quebra de 1,4%
• >181 cv – quebra de 2,4%
No nosso ponto de vista, esta subida enorme, sobretudo no escalão de potências entre os 61 e 100cv, tem tudo a ver com o programa de abate de tratores com mais de 10 anos lançado pelo governo em Outubro do ano passado, com prazo de execução até 31/12 e que as marcas, por falta de stock no momento, têm vindo a entregar ao longo destes meses.
Na sua maioria, estas vendas têm sido realizadas no norte e centro do país, onde a agricultura não é tão profissional e onde os tratores não trabalham muitas horas por ano. Como tal, pensamos que as trocas por tratores novos aconteceram apenas, e só, pelo incentivo pois caso contrário pensamos que não seriam trocados …
No caso do sul do país, sobretudo no distrito de Beja, as culturas do olival e amendoal continuam a crescer, e em força, o que faz com que o mercado continue muito dinâmico nesta região.

2 - No seguimento da minha resposta anterior, acreditamos que o mercado irá abrandar bastante nos restantes meses do ano pelo efeito da maioria da execução do Programa de Abate já ter sido executada.

3 - Penso que terá tudo a ver com a instabilidade que, nós europeus, estamos a viver a nível social, económico, político (com uma guerra atualmente dentro da Europa) e climático. Todos estes fatores não contribuem, de facto, para a subida de confiança dos agricultores.

João Bizarro, Diretor Comercial de Tratores da New Holland
1 - No que concerne ao Q2 o mercado continuou “em alta”, com um crescimento exponencial. Entre janeiro e junho falamos de um crescimento na ordem dos 25% face ao período homólogo do ano anterior. No Q3 começou a estabilizar. Acredito que o Q3 termine em linha com o do ano passado. Isto explica-se porque o Q3 de 2023 foi razoável e o Q4 muito bom. A soma Q1, Q2 e Q3 de 2024 continuará a ser bastante superior ao período homólogo fruto de um primeiro semestre fantástico. Analisando por segmentos, verificamos um crescimento significativo dos chamados Especiais, nos Compactos houve um crescimento acima dos 30 cv e uma queda abruta abaixo dos 30, nos Convencionais (até aos 120 cv) assistimos a um crescimento substancial alicerçado pelo Programa de Abate. Entre os 120 cv e os 200 cv existe um ligeiro crescimento, e acima dos 200 cv o mercado está estabilizado. A nível regional, não existem diferenças significativas, sendo a melhoria transversal a todas elas.

2 - Nos próximos meses teremos a “contrassafra” pois quando existem muitas vendas numa fase inicial existem depois maiores dificuldades em manter esses números. Assim, claramente existirão menos matriculações no segundo semestre do que no período homólogo do ano anterior.

3 - É preocupante porque parece indiciar que o agricultor europeu atravessa ainda maiores dificuldades que o português, por estranho que isto pareça. Não identifico sinais que possam indiciar que recomecem a investir, nomeadamente, em máquinas agrícolas. Mês após mês vemos que o mercado continua estático, sem qualquer mostra de reação.
Depois das grandes manifestações que vimos na Alemanha, França ou Bélgica, pensámos que pudesse surgir algum encorajamento ou medidas que alterassem esta situação, mas a verdade é que isso não se verificou. Não prevemos um aumento de vendas a nível europeu em 2024. Será, seguramente, pior do que o ano passado.

José Luis Rodrigues, Territory Business Manager na John Deere Ibérica, S.A
1 - Como é do conhecimento geral, o mercado de tratores em Portugal teve um grande incremento no último ano, devido fundamentalmente ao denominado “Programa do Abate”. Embora o crescimento se tenha verificado em todos os segmentos até 120 cv de potência, o grande incremento de vendas deu-se essencialmente até os 80 cv, devido às próprias condicionantes do programa, que como se sabe, majorava as candidaturas até essa cavalagem. Penso que este programa da forma como foi desenhado, teve bastante impacto na agricultura de subsistência, muitas vezes também denominada agricultura familiar, que tem muito peso no panorama agrícola português. Ora, sendo a John Deere uma marca muito focada no sector profissional da agricultura, não beneficiou de um grande incremento nas suas vendas com proveniência deste programa de apoio aos agricultores. Ainda assim e findo o mês de agosto, o balanço do primeiro semestre do ano é positivo porque levamos mais vendas que no ano passado à mesma data e consolidamos a presença da marca, no mercado de tratores de alta potência. Além disso, estamos muito satisfeitos porque temos vindo a implementar muita tecnologia, na área da Agricultura de Precisão, tornando as explorações agrícolas dos nossos clientes, cada vez mais rentáveis e com a garantia de sustentabilidade futura. Tudo isto, em estreita cooperação com a nossa rede de concessionários, que continua a profissionalizar-se a bom ritmo, para dar cada vez melhor serviço aos clientes. Apesar da John Deere estar presente em quase todos os sectores da agricultura profissional, destaco o bom desempenho dos agricultores no setor lácteo, das bacias leiteiras a norte do Rio Tejo e nos Açores, assim como a excecional rentabilidade do olival no Alentejo, que tem permitido a consolidação da marca John Deere no mercado português.

2 - Penso que a fase ascendente do mercado total de tratores no primeiro semestre do ano, vai dar lugar a um decréscimo progressivo do mercado até ao final do ano 2024. Esta tendência está relacionada com o nível de execução do “Programa de Abate de tratores”, que, na minha opinião, está prestes a atingir o seu limite. Ainda existem bastantes candidaturas por executar, mas atendendo ao baixo valor atribuído pelo Estado, grande parte dos agricultores não demonstram interesse em realizá-las. No entanto e atendendo a que o mercado de tratores para clientes profissionais normalmente não apresenta tanta volatilidade, do ponto de vista da John Deere as expetativas para a segunda metade de 2024 são boas. Existem setores na agricultura portuguesa, em que a John Deere tem boa presença e dispõe de produtos adaptados, que se estima que continuem a ter rentabilidade. Não sendo um bom ano, por exemplo na viticultura e fruticultura, o ano 2024 está a ser razoável na produção de leite e tomate e vai voltar a ser um ano excecional na produção de azeite. Ainda que de forma muito gradual, o aumento do tamanho das explorações agrícolas em Portugal, aliado à falta de mão de obra no setor primário, está a provocar uma necessidade urgente, na otimização das tarefas agrícolas. Considero este aspeto muito relevante para a evolução da marca John Deere em Portugal, porque além da capacidade e fiabilidade dos seus tratores, dispõe de soluções na área da Agricultura de Precisão que estão a ajudar os agricultores a otimizar as suas tarefas agrícolas, tornando-os cada vez mais rentáveis. Outro fator que influencia muito o mercado de tratores para clientes profissionais é a facilidade de acesso ao crédito e nesta área, as notícias apontam para uma descida progressiva das taxas de juro, facilitando o acesso à compra de maquinaria. Em resumo, apesar da tendência negativa na evolução do mercado total de tratores em Portugal, atendendo ao core onde a John Deere trabalha, as expetativas são boas.

3 - Na minha modesta opinião, os acontecimentos do último ano, com uma certa indefinição nas políticas agrícolas, as grandes manifestações dos agricultores nos países do centro da Europa e as guerras quer na Ucrânia, quer no Médio Oriente, são os principais fatores na queda do índice geral do clima empresarial na indústria da maquinaria agrícola na Europa. Creio que a Comunidade Europeia aquando da definição das políticas agrícolas e principalmente na área das restrições ambientais, não ponderou devidamente as consequências da aplicação das mesmas, em particular no que poderia provocar aos agricultores e aos consumidores em geral, num contexto de globalização na agricultura.  Ainda assim, considero que sendo a agricultura imprescindível para a sobrevivência do ser humano no planeta e, por consequência, existir uma constante necessidade no fabrico de maquinaria, os índices voltarão a recuperar, resta saber em que horizonte temporal.

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