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Impactos das alterações climáticas na agricultura

01/05/2020

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As alterações climáticas têm vindo a exacerbar a intensidade de eventos extremos, como as ondas de calor, seca precipitação intensa, tempestades, ou fogos florestais que se tornarão cada vez mais frequentes. O ano de 2019 foi considerado o segundo mais quente no planeta desde que há registos de temperaturas, e a década passada foi a mais quente de sempre. Na Europa, o ano de 2019 foi o mais quente desde que há registo.

No final do mês de Outubro do ano passado, 36% do Sul de Portugal continental encontrava-se em situação de seca severa e extrema. De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, a percentagem de água no solo era inferior a 20% em certas áreas do vale do Tejo, bem como nas regiões do Alentejo e Algarve. Em 2020, e apesar do Norte e Centro do país terem recuperado em termos de precipitação, o Sul ainda se encontrava em seca.

Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, refere que desde 1960 o país vem observando um declínio no volume de precipitação anual, com os períodos de secas a serem mais intensos. O Sul da Europa está a ser afectado pelo clima do Norte de África. Até ao final do século estima-se que irá ocorrer uma diminuição ate´ 30% na pluviosidade média anual na região do Alentejo.

Perdas de produtividade

Em Portugal, os impactos das alterações climáticas e a variabilidade do clima têm vindo a afectar cada vez mais os diversos sectores da economia, como a agricultura, o que tem resultado em perdas de produtividade. A falta de chuva e as secas que se verificaram nestes últimos anos tiveram impacto nos recursos hídricos no Sul de Portugal e, consequentemente, nas crescentes necessidades de irrigação. Isto é preocupante para uma agricultura cada vez mais intensiva que requer um maior consumo de água. A pecuária também é afectada em termos das necessidades de consumo de água e alimentação para os animais.

As alterações climáticas têm impactos na agricultura ao nível da fenologia e ciclo de cultura. Um estudo recente efectuado pela Agência Europeia do Ambiente sobre a adaptação às alterações climáticas no sector agrícola na Europa, indica que futuros impactos irão afectar a produtividade agrícola em termos de qualidade, quantidade, bem como dos preços dos produtos em algumas regiões do Sul da Europa e Mediterrâneo. O mesmo estudo projeta ainda que no Sul da Europa estes impactos farão com que em 2100 o valor das terras agrícolas vá decair em cerca de 80%, levando mesmo a que sejam abandonadas.

Deste modo, a gestão dos recursos hídricos vai ter que ser mais adaptada às necessidades e disponibilidade de água e, por outro lado, dever-se-á promover uma maior utilização de culturas mais resistentes ao clima. No ano passado, o relatório “Vulnerabilidade de Portugal à Seca e Escassez de Água” recomendava aos agricultores a adoção de medidas de adaptação e utilização de instrumentos e tecnologias de irrigação, assim como sistemas de exploração agrícola sustentáveis mais adaptados e resilientes aos choques climáticos.

Medidas como a reutilização de águas residuais que podem ser utilizadas na irrigação para agricultura e o recurso à dessalinização já estão a ser equacionadas pelo Governo português e vão ser necessárias para aumentar a adaptação e diminuir as vulnerabilidades na agricultura.

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