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Entrevista

Investir na Europa para Cultivar o Mundo

21/07/2023

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João Oliveira, vice-presidente da marca TAFE

Ver portugueses à frente de grandes projetos europeus é cada vez menos uma raridade. Dos automóveis aos bancos, do desporto à política, e agora, também, nas máquinas agrícolas. João Oliveira, originário de Gouveia, distrito da Guarda, é um destes casos. Aproveitámos a sua visita à FNA para uma entrevista onde ficámos a conhecer a fundo o projeto europeu da TAFE, que mais do que vender tratores, quer aprender o que de melhor se faz na Europa.

 

Da Guarda a Madrid, da John Deere à TAFE (passando pela Kubota)
Estudou na Universidade de Évora, trabalhou na área dos equipamentos de rega no Grupo Hubel, e em 2010, ingressa na John Deere, onde começou por assumir uma responsabilidade ibérica mas acabou a coordenar uma equipa internacional através da Suíça. Em 2015, ingressou na Kubota e mudou-se para o Reino Unido e Madrid, onde esteve até ao final de 2022. O percurso foi sendo talhado com um martelo e um escopro: o desafio e a oportunidade de deixar a sua marca.

Cheguei à John Deere Water, em 2009/2010. Nessa altura contactaram-me para ser responsável de vendas para Portugal e parte de Espanha. Passado um ano, fui convidado para assumir um cargo com responsabilidade europeia, para o desenvolvimento do canal de distribuição. Em 2012, a John Deere Water é vendida e fui convidado para integrar a John Deere na parte dos tratores, ficando novamente com a responsabilidade de desenvolver o canal de distribuição na John Deere International, Divisão da John Deere que se encarrega dos mercados onde a marca não tem escritórios físicos, nomeadamente norte e centro da Europa, Norte de África e Médio Oriente.

Em 2015 surge o desafio da Kubota - desenvolver o canal de distribuição -, que pretendia incrementar a sua importância no segmento de alta potência (até 175 cv). “Quando me colocam um desafio onde possa imprimir o meu cunho, fico entusiasmado, e foi isso que me levou a mudar para a Kubota. Assim, mudei também de país, saindo da Suíça e passando para o Reino Unido e, depois, para Espanha. Estive na Kubota até 31 de dezembro de 2022.


O desafio da TAFE
Depois de trabalhar em duas das maiores empresas do setor das máquinas agrícolas, João Oliveira decidiu abraçar um projeto de uma marca que era, até há bem pouco tempo, praticamente desconhecida na Europa. “Tomei esta decisão porque me foi apresentado um projeto desafiante pela TAFE. A empresa, apesar da dimensão que tem – é o terceiro maior fabricante mundial de tratores e opera em mais de 100 países – não estava presente na Europa. Foi isto que me foi proposto: lançar a marca na Europa. Tendo em conta o meu background em vendas e desenvolvimento de canais de distribuição, a empresa achou que eu tinha as competências necessárias e, da minha parte, vi um projeto muito aliciante, pelo que decidi aceitar”.

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Presença na Agritechnica assegurada
Foi um orgulho pessoal que o primeiro evento da TAFE na Europa tenha sido em Portugal, na FNA. Foi muito gratificante ver o entusiasmo quer dos agricultores, quer das pessoas do Grupo Auto-Industrial. Em setembro marcaremos também presença na Agroglobal. Em novembro, teremos a Agritechnica onde a TAFE estará presente e marcará a sua entrada a nível continental. A presença num evento desta envergadura é mais uma prova do compromisso da empresa com o mercado europeu. Seja pela dificuldade inerente a conseguir assegurar um lugar (o evento não se realiza desde 2019 e tem uma lista de espera assinalável), seja pelo investimento, bastante avultado, que significa”. - João Oliveira,  vice-presidente da TAFE para a área de vendas, marketing e pós-venda na Europa

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180 dias de trabalho
Por altura da publicação da entrevista, completar-se-ão seis meses de trabalho na TAFE. Qual o balanço? “Posso dizer que, além da dimensão e capacidade de investimento da empresa, há um entusiasmo muito grande neste projeto. É visível pelo envolvimento dos mais altos cargos da empresa. Tenho recebido apoio constante da Equipa Sénior da Administração da TAFE em todas as áreas de negócio, desde o Produto, ao I&D, ou no Marketing e Comunicação. Apesar dos volumes de vendas na Europa não serem comparáveis com a Índia (o mercado anda entre as 900.000 e o 1.000.000 de unidades/ano), este é um projeto estratégico para a empresa, sobretudo pelo know-how que permitirá adquirir”.

Lançar uma marca nova nunca é um processo simples, ainda mais quando falamos do mercado de tratores europeu. Quais foram então as prioridades nestes primeiros seis meses? “Temos estado focados no desenvolvimento da rede de distribuição e criação de uma equipa “da Europa para a Europa”. Este último ponto é fundamental e diferenciador em relação a outras marcas que têm vindo para cá. Este projeto é um compromisso da empresa com os agricultores europeus: estarmos cá com uma verdadeira estrutura, independentemente dos números que façamos nestes primeiros anos”.

 

"Temos estado focados no desenvolvimento da rede de distribuição e criação de uma equipa “da Europa para a Europa”


Distribuidores locais em vez de filiais
O modelo de distribuição da TAFE para a Europa é o de distribuição indireta, isto é, através de distribuidores locais ao invés de filiais da marca. Serão estes distribuidores que criarão depois a sua rede de concessionários nacional. “Escolhemos empresas altamente capacitadas, como o Grupo Auto-Industrial, para trabalhar nos seus mercados e que serão responsáveis pelo desenvolvimento do seu próprio canal de distribuição. Neste momento, já iniciámos a atividade em mercados que, no seu todo, representam 50% do mercado de tratores europeu nos segmentos de potência que iremos trabalhar. Desta forma, estamos já em Portugal, Itália, Alemanha, Reino Unido e Polónia. Até ao final do ano contamos chegar a mais países e, em particular, a importantes mercados como Espanha e França, para os quais já temos identificadas empresas de referência que nos permitam ter sucesso nessas localizações. A receção por parte das empresas distribuidoras tem sido bastante positiva, o que nos deixa satisfeitos tendo em conta que apenas temos contactado com empresas estabelecidas e com dimensão assinalável nos respetivos mercados”.

Ainda que seja cedo para avaliar, quisemos saber se os resultados têm sido animadores. “Os resultados iniciais são muito entusiasmantes, temos, por exemplo, uma carteira de encomendas que supera as expectativas iniciais da TAFE. No entanto, como se diz na gíria futebolística “os prognósticos fazem-se no fim do jogo”. Preferimos focar-nos naquele que é o nosso plano a 5 anos, que está plenamente estabelecido e claro para todos dentro da empresa”.

 

"Preferimos focar-nos naquele que é o nosso plano a 5 anos, que está plenamente estabelecido e claro para todos dentro da empresa”.


Investir na Europa para cultivar o Mundo
A entrada de marcas indianas na Europa tem vindo em crescendo, tal como a sua aceitação por parte dos clientes. No entanto, para a TAFE, o mercado europeu, mais do que pelas vendas, interessa pelo conhecimento que pode trazer à empresa para trabalhar outros mercados onde os volumes são maiores. “Uma empresa com os números de vendas da TAFE (180.000 unidades/ano) querer vir para a Europa trabalhar volumes muito inferiores, é, por si só, sinal de que aquilo que move a empresa não é simplesmente a parte comercial”, começou por explicar João Oliveira. “O que a TAFE vê na Europa é uma oportunidade de estar num mercado que, por ser líder em inovação e em tecnologia, permitir-lhe-á aprender e fazer o transfer desse conhecimento para os outros 100 mercados em que a empresa já opera. É por isso que a empresa contratou profissionais como Massimo Ribaldoni, CTO da TAFE a nível global” (trabalhou no Grupo SDF durante 28 anos onde desempenhou funções de vice-presidente executivo da área de Investigação e Desenvolvimento).

Assim, além do já anunciado armazém de peças na Europa, a TAFE investirá ainda num escritório de vendas europeu, além de um novo laboratório de Inovação e Desenvolvimento que terá capacidade para o dobro dos engenheiros do atual (ao dia de hoje são já 10 os engenheiros a trabalhar nas instalações da empresa no Reino Unido).

 


Tratores e “smart farming” da Europa para a Europa
O projeto europeu da TAFE não se limita, então, à vertente comercial. Além da venda de tratores e do know-how que possa adquirir, a empresa quer ser sinónimo de Inovação e de Serviços. Para atingir esta visão, a empresa tem na sua composição três áreas diferentes, tal como explicou João Oliveira. “Eu sou o vice-presidente da marca para a área de vendas, marketing e pós-venda, ou seja, toda a parte comercial, mas existem mais duas divisões: Investigação e Desenvolvimento (I&D), e Serviços. O I&D conta com um escritório no Reino Unido, e 10 engenheiros (passarão a 20 nos próximos meses). Esta divisão está focada no desenvolvimento do produto e na compreensão das necessidades do mercado europeu, que permitem desenvolver máquinas “da Europa para a Europa”. Em relação aos Serviços, estamos a dar passos largos, através de acordos com empresas que não podemos ainda divulgar (serão comunicadas em novembro, na Agritechnica), no desenvolvimento de Serviços Conectados, ou seja, tudo aquilo que envolve o chamado “Smart Farming”, Conectividade, ou telemetria, e que constituirá uma das principais áreas de atuação da TAFE na Europa. “Pretendemos não apenas fornecer máquinas por si só, mas sim a solução completa, começando logo no aconselhamento dos agricultores.”

O renting de equipamentos é outro dos serviços que a empresa planeia disponibilizar à sua rede a curto/médio prazo: “É algo que está incluído na nossa visão estratégica a médio prazo, sobretudo quando iniciarmos a comercialização da gama dos 55 aos 75 cv”.


Tratores: dos 28 aos 75 cv
Se os Serviços Conectados ainda estão na forja, os tratores já são uma realidade. Na FNA já foi possível ver o modelo de entrada, de 28 cv, mas na Agroglobal a marca já terá também os modelos de 55, 65 e 75 cv versão ROPS. As versões cabinadas deverão estar prontas no final de 2023. A cabine será totalmente inovadora, desenvolvida e construída de raiz. Os modelos ROPS serão fabricados na fábrica de Chennai, Índia, e os cabinados na Turquia. Em paralelo, está em marcha um projeto para o desenvolvimento de uma gama dos 30 aos 50 cv.


Ser um especialista nas culturas especializadas
O segmento de potência em que a TAFE se quer focar na Europa vai dos 28 aos 100 cv. A explicação, segundo João Oliveira, está relacionada com o crescimento no Velho Continente de culturas como a vinha, os pomares, os olivais, os amendoais ou as cultivadas em estufa. “O crescimento das áreas de culturas especializadas no continente europeu tem levado à subida da quota de mercado do segmento de potências entre os 50 e os 100 cv em face de outros de maior cavalagem”, explicou. Assim, outro dos projetos em desenvolvimento na TAFE é uma gama de tratores especializados.

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