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Jan/abr 2023: A navegar no negativo

31/05/2023

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A navegar no negativo

Em abril, nada mudou. O registo de matrículas de tratores agrícolas estabilizou nos números negativos que já havia apresentado em março e os baixos níveis de confiança dos agricultores refletem-se de forma clara na quebra de matriculações por parte das marcas.

Entre janeiro e abril deste ano foram matriculados 1.642 tratores, menos 658 (-28,61%) do que em igual período de 2022. abolsamia falou com Nuno Inácio, CEO da J. Inácio, distribuidor da John Deere em Portugal, que identificou os principais motivos para esta quebra. “Há três ou quatro pontos importantes: desde logo, o aumento do preço dos tratores novos, o que levou à subida na venda de usados. As pessoas não deixaram de comprar tratores mas fogem a comprar novos porque ainda sofrem com as elevadas taxas de juro. Estas são um travão à compra de equipamentos novos e deverão continuar altas até ao fim do verão, até porque são indexadas à inflação. Se, após o verão, viermos a ter uma inflação de 2%, é provável que as taxas de juro desçam um pouco mas com algum tempo de atraso”, começou por explicar, acrescentando: “Há ainda a seca, pois a falta de água reduz a produção e o lucro. Desperdiçamos muita água e nem conseguimos aproveitar a água das chuvas, que vai quase toda para o mar. Nesta altura, já todos os agricultores deviam monitorizar as necessidades hídricas das plantas e dos solos na rega. Quantos o fazem? Apenas um nicho. Depois, a agricultura não é vista pelo Governo como uma parte estratégica para o desenvolvimento do País, pelo que os apoios são escassos. Tudo isto contribui para os baixos níveis de confiança dos agricultores em relação ao futuro.”

A título estatístico, refira-se que, segundo o boletim do Instituto Português do Mar e Atmosfera, tivemos o 3º abril com menor nível de precipitação desde 1931, sendo que durante o mês, 19,9% do território de Portugal esteve em seca severa e 14,1% em seca extrema.

Todos estes fatores contribuem para que 2023 já some quatro meses a matricular menos de 500 tratores e abril ficou-se pelos 407, superando por pouco a barreira dos 400 que fevereiro não conseguiu atingir. E a quebra que se tem registado este ano incide cada vez mais no segmento 51-100cv, destinado maioritariamente a clientes não profissionais, tal como já sucedera em março, aumentando as matriculações no setor profissional (+100cv).

Nota: Expurgámos os ATV e UTV homologados sob a categoria T e os Telescópicos. | Origem: IMT / Fonte: ACAP

Marcas
A quebra, desta vez, engloba ainda mais marcas do que no fim do primeiro trimestre, continuando a ser a New Holland a que regista o maior decréscimo em relação ao período homólogo do ano passado: -42,5%. A Solis mantém a liderança mas a quebra, que era de 4% em março, já é de 11,26%, uma tendência que atinge as 13 marcas mais bem posicionadas no ranking. Para encontrar a primeira com saldo positivo em relação a 2022, é preciso descer até à 14ª posição, onde se encontra a Branson: matriculou 34 tratores entre 1 de janeiro e 30 de abril deste ano, quando nos primeiros quatro meses do ano passado se ficara pelos 18. Quanto às quotas de mercado, a Solis é a única das primeiras cinco que tem melhores números do que em igual período do ano passado, com 19,67% (15,83% em 2022). A Kubota (10,17%) continua a superar a New Holland (9,81%) neste capítulo, enquanto Deutz-Fahr e John Deere não atingem os 7% de quota de mercado no fim de abril.

Unidades vendidas por escalão de potência
Nos segmentos de potência mais vendidos, saltam à vista os números do >200cv: 43 tratores matriculados atingindo, em apenas quatro meses, quase 50% (47,7%) do número total (90) alcançado em 2022. Nuno Inácio indica as razões que motivam este resultado ligado ao setor profissional: “Hoje em dia há uma tendência para os agricultores evoluírem para potências maiores, porque se aperceberam que podem fazer o trabalho com um trator maior e um só operador do que com dois tratores mais pequenos e dois operadores. Esta decisão está relacionada com três pontos: a dificuldade em encontrar recursos humanos, bons operadores; o facto de o custo por cavalo diminuir à medida que potência aumenta, ou seja, comprar dois tratores de 100cv é hoje mais caro do que comprar um de 200cv; e a questão da velocidade: os agricultores têm áreas cada vez maiores mas a janela temporal de trabalho é a mesma. Logo, têm de ser mais rápidos e só se consegue isso se aumentarem a potência. Também podem fazê-lo com mais tratores mas fica muito mais dispendioso. A palavra-chave hoje é velocidade.” Já nos restantes escalões, o cenário mantém-se: o <50cv detém mais de 50% (51,76%), o escalão 51-120cv volta a situar-se aquém dos 40% (37,82%) e o 121-200cv fica-se pelos 7,80%.



Marcas e modelos mais vendidos, classificados por segmentos de potência
Segundo os dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), a Solis foi a marca que matriculou mais tratores nos primeiros quatro meses de 2023 (323) e também a que detém o modelo mais vendido. O destaque da marca indiana este ano é o 26 9+9 M5, o qual teve 139 unidades matriculadas, ou seja, 43,03% do total dos registos da Solis. Contabiliza mais 39 unidades do que o... Solis 26 4WD Stage V e mais 76 tratores do que o Farmtrac 26 4WD, o terceiro da lista. Quanto às marcas líderes nos diferentes escalões de potência, a Solis prolongou o domínio <50cv, com 303 tratores matriculados novos, mais 210 do que a Kubota. No escalão 51-120cv, a New Holland supera a concorrência, chegando aos 121 tratores matriculados, mais 31 do que a Deutz-Fahr, marca que ocupa um lugar que foi da Kubota em 2022. Já nas potências mais elevadas, a John Deere sobressai nos 121-200cv, matriculando mais do dobro (38) do que a Valtra (18). Ainda assim, os finlandeses levam a melhor >200cv: registam 17 tratores matriculados, mais 8 do que a marca do veado. Se olharmos para os modelos mais matriculados para o setor profissional (+100cv) nestes primeiros quatro meses do ano, destacam-se um trio da John Deere – 6120M (17 unidades), 6130M (7) e 6155M (5) – além do Massey Ferguson 5713M (6) e do Valtra T174 (5).

Reboques
Ainda não foram disponibilizados os dados relativos a Janeiro/abril deste ano.

BRP 'dispara' nos UTV’s e CF Moto mantém Linhai à mesma distância
Numa análise ao mercado de vendas de ATV’s (Veículos todo-o-terreno) e UTV’s (Veículos utilitários multitarefas) nos primeiros quatro meses de 2023, a CF Moto mantém a liderança de vendas de ATV, registando um crescimento de 58,82%: matriculou 162 veículos (48 em abril), mais 60 do que em igual período do ano passado, e continua a ter mais 10 do que a Linhai, líder do segmento em 2022. Já nos UTV, a canadiana BRP 'disparou' nas vendas: se em março, registava apenas mais 4 veículos matriculados do que a CF Moto e a Polaris, no final de abril já soma 74 unidades, mais 24 do que a CF Moto e 31 do que a Polaris. Por fim, nota para o bom registo nas vendas dos UTV (39,64%), embora tenha caído em relação a março, e para a melhoria residual nos ATV (2,70%), comparando com os números entre janeiro e abril do ano passado.




Quebra de 20,43% no mercado em Espanha
O Ministério de Agricultura, Pesca e Alimentação (MAPA) de Espanha divulgou os dados relativos ao registo de tratores agrícolas no país nos primeiros quatro meses de 2023 e os números continuam a ser semelhantes aos de Portugal: foram matriculados 2.540 tratores agrícolas entre 1 de janeiro e 30 de abril, o que representou uma quebra de 20,43% em relação ao período homólogo do ano passado, segundo a Revista espanhola Profesional Agro.

Se nos cingirmos apenas ao mês de abril, a quebra situa-se nos 17,13%, pois foram matriculados 624 tratores, menos 129 do que em abril de 2022 (753). Já contabilizando o universo total de maquinaria agrícola em Espanha entre janeiro e abril deste ano, os dados são igualmente negativos mas aqui, de forma residual: os registos oficiais revelam 10.028 unidades matriculadas, menos 2,74% do que as 10.310 entre janeiro e abril de 2022.

Barómetro de negócios da Associação Europeia de Maquinaria Agrícola (CEMA)
Maio de 2023 – Tendência ascendente totalmente revertida

O índice geral do clima empresarial para a indústria de maquinaria agrícola na Europa abandonou completamente a sua primeira trajetória ascendente desde os declínios acentuados no decurso da invasão russa à Ucrânia, e encontra-se já num nível baixo embora ainda positivo. Em Maio, o índice desceu de 16 para 11 pontos (numa escala de -100 a +100).

A carteira de encomendas atingiu finalmente o seu ponto mais alto nos últimos meses. O volume de encomendas foi significativamente reduzido e corresponde agora a um período de produção de 5,5 meses, o que é ainda muito elevado numa comparação histórica embora substancialmente mais baixo do que em qualquer fase do ano passado.

Ainda que se possa observar um abrandamento considerável do lado da oferta, as incertezas aumentam no que diz respeito ao mercado e os níveis de confiança estão a diminuir em conformidade. Os representantes da indústria reduziram ainda mais as suas expetativas futuras. Embora ainda exista uma maioria moderada de representantes de empresas com expetativas positivas em termos de volume de negócios para alguns dos grandes mercados, como a França e a Alemanha, a confiança praticamente desapareceu no que diz respeito aos mercados de Itália, Espanha e Polónia.

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