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Mercado português: a visão dos representantes das marcas

13/12/2024

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Aos especialistas colocámos as seguintes questões:

1 - Que balanço faz do Q1, Q2 e Q3 do mercado de tratores/ equipamentos agrícolas em Portugal (análise por segmentos de potência e eventuais diferenças regionais significativas)?
2 - Que evolução espera no mercado de tratores/equipamentos em Portugal nos próximos seis meses e quais são os principais motivos por trás dessas expectativas?
3 - Qual é a sua análise sobre a tendência negativa no índice geral do clima empresarial para a indústria de maquinaria agrícola na Europa (CEMA)?

Arnaldo Caeiro, Diretor Geral SDF Portugal

1 - Até setembro 2024 o mercado total registou uma subida de 24,3%, embora com comportamento diferente entre segmentos. Esta situação é resultante da Medida de Renovação do Parque de Tratores lançada em maio de 2023 que, desta vez, além de beneficiar de forma mais justa e equitativa todas as regiões do país, teve especial importância no crescimento significativo que se verificou nos segmentos de média potência, entre os 60 e os 120 cv. Os restantes segmentos registaram até à data uma queda quando comparados com igual período de 2023. O aumento das vendas impactou o mercado de forma bastante positiva e tem contribuído para um desempenho muito positivo das marcas que têm produto nos segmentos de média potência.
2 - Para os próximos meses, considerando que os efeitos positivos da Medida de Renovação do Parque de Tratores estão a terminar, é esperada uma diminuição significativa das vendas e uma contração do mercado, que ainda assim no final do ano irá apresentar uma subida quando comparado com 2023. Para a primeira metade de 2025, atendendo à incerteza da abertura de novas medidas de apoio ao investimento em maquinaria agrícola, é esperada uma queda generalizada do mercado.
3 - O mercado europeu de maquinaria é um mercado maduro relativamente ao qual não se esperam alterações significativas nos próximos anos, nem na estrutura nem nos volumes. As variações que eventualmente se possam registar estarão diretamente relacionadas com fatores macroeconómicos a nível global (inflação, crises de disponibilidade de matérias primas, …) ou com fatores locais em consequência de medidas (ou da falta de medidas) de apoio à agricultura que os governos de cada país possam promover.

João Pimenta, Diretor Geral Ascendum Agro

1 - O mercado começa a dar sinais de queda para valores ligeiramente inferiores a Setembro 2023 o que revela que os fatores que até agora influenciaram o mercado para uma subida tão acentuada, se estão a esbater. Entre eles podemos identificar pelo menos dois, que são o programa de incentivo ao abate e o novo fenómeno que são a constituição de frotas de aluguer, que contribuem para as matriculas, mas não correspondem totalmente a colocações no mercado uma vez que nem todos os seus efetivos estão ao serviço.
Agora em números:
De Janeiro a Setembro, comparando com o ano anterior períodos homólogos e por segmentos de potência:
Mercado total: Verifica-se uma variação positiva de +934 unidades, ou seja, um incremento de +26% aproximadamente.
De 0 a 25 cv: verifica-se uma variação negativa de -78 unidades, ou seja, uma quebra de aproximadamente -7%;
De 26 a 80 cv: verifica uma variação positiva de +611 unidades, ou seja, um crescimento de 40%;
De 81 a 120 cv: verifica-se uma variação positiva de +368 unidades, ou seja, um crescimento de +60%.
Se somarmos o crescimento dos segmentos 26 a 80 cv e 81-120 cv obtemos 979 unidades que justificam o crescimento do mercado total (934).
É sem dúvida aqui que se concentrou o efeito do incentivo à renovação do parque de tratores. Os segmentos seguintes 121-150, 151-200, 201-250 e >250 cv contribuíram em conjunto com 33 unidades.

2 - Espera-se que se mantenha a tendência de queda para terminarmos 2024 com números aproximados a 5800 unidades, o que corresponde a uma variação ainda positiva de cerca de 10% em relação a 2023.

3 - O mercado nacional encontra-se em contraciclo com os mercados europeus onde se tem verificado quedas acentuadas, sendo as mais recentes previsões para o ano corrente de queda acentuada na Europa Central (-20% aproximadamente) e queda menos acentuada na Europa Ocidental (-6% aproximadamente).
Para o próximo ano prevê-se que, caso não existam apoios de renovação de tratores, ou outros apoios equivalentes, o mercado nacional registe uma queda em relação a 2024.

Alvaro Anaya Lopez, Diretor Geral Granit-Parts

1 - A análise do terceiro trimestre em Portugal é muito positiva em termos absolutos, com resultados mais destacados no centro e sul do país em comparação com o Norte. A zona norte de Portugal, bem como toda a margem noroeste da Península Ibérica, sofreu muito este ano devido às chuvas excessivas e constantes que não têm permitido campanhas uniformes de colheita ou sementeira em zonas forrageiras. O forte impacto que tal teve agravou ainda mais os problemas de liquidez de alguns agricultores e produtores pecuários, não só na zona norte, mas na maior parte de Portugal. Problemas como a difícil situação do mercado agrícola ou fatores como a língua azul no setor pecuário ou os atuais preços do vinho não facilitam uma recuperação do setor em linha com os aumentos de preços dos fatores de produção ou maquinaria agrícola. Apesar de tudo isto, existe ainda um setor agrícola português muito poderoso, como demonstram os últimos resultados de vendas de máquinas ao longo de 2024. As novas tecnologias implementadas, bem como o cultivo intensivo de oliveiras, amendoeiras ou a ajuda à agricultura 4.0 estão a dinamizar fortemente o meio rural português.

2 - Ao longo deste ano, o mercado europeu sofreu um dos piores anos da última década em termos de vendas absolutas de peças sobressalentes e máquinas. Como vimos no início de 2024, as sucessivas manifestações dos agricultores europeus não previam um ano fácil para o setor. Este impacto negativo ainda não se refletiu de forma simétrica no mercado ibérico, ainda assim, é lógico dizer que alguns setores estão em dificuldades, mas outros, como a batata, os vegetais ou a carne de porco, são capazes de obter bons resultados apesar de ter uma produção inferior à dos anos anteriores. Estamos otimistas quanto à evolução do mercado português durante o final de 2024 devido à sua elevada variabilidade de culturas e profissionais. Acreditamos que, de um modo geral, o mercado português é economicamente mais independente dos possíveis efeitos negativos que outros mercados agrícolas, como os mercados francês ou alemão. A agricultura portuguesa é muito mais resiliente.

3 - A tendência e a sua evolução foram bastante previsíveis durante vários anos, senão décadas. As explorações agrícolas intensificam-se, especializam-se e a sua dimensão não pára de crescer. A lógica dizia que o número de tratores e máquinas deveriam diminuir. Há já algum tempo que as empresas europeias de maquinaria agrícola têm vindo a ser substituídas por marcas de origem asiática devido aos seus níveis de preços mais competitivos e à viabilidade agrícola. Estas empresas dedicam agora os seus esforços e recursos a mercados importantes em África ou América, em vez dos mercados europeus. Estamos a verificar que atualmente a diferença entre o agricultor profissional e o amador é cada vez maior. Os próprios custos operacionais e a burocracia impossibilitam a sobrevivência das médias e pequenas explorações agrícolas em Portugal, o que se refletirá num ambiente rural menos diversificado e mais homogéneo. Este processo a médio e curto prazo traduz-se numa menor população rural e no seu menor peso nos atuais governos. Uma maior profissionalização e rentabilidade do setor sem deslocar os pequenos agricultores, uma harmonização do estilo de vida nas zonas rurais e melhores condições deverão suavizar e até melhorar os dados de vendas de maquinaria no setor agrícola.

 

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