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O cavalo de trabalho robótico chegou a Portugal

20/12/2023

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Foi no dia 16 de novembro, em Torres Vedras (Quinta do Infesto), que os cinco robots Black Shire se estrearam perante mais de 30 responsáveis de Casas Agrícolas dedicadas à vinha, pomar e olival. No dia 20, as demonstrações ocorreram em Pegões (Herdade do Contador), e dia 23 na Vidigueira (Casa Relvas). “Queríamos mostrar a máquina em trabalho em diversos contextos agrícolas. Na zona Oeste, pelas pendentes e declives, apesar de não ser o Douro onde a Terrabot quer estar já em 2024. Pegões e Vidigueira por serem áreas maiores e pelas culturas do olival e amendoal”, explicou António Vilela, gerente da Terrabot, a empresa que criou com David Gomes para a representação exclusiva da marca de robots Black Shire para o mercado português.

A trabalhar juntos, sobretudo em vinha e olival, António e David desenvolveram um conhecimento profundo da realidade do setor. “Sentimos a necessidade do mercado devido à falta de mão de obra e a janelas de oportunidade cada vez mais curtas, e procurámos trazer para Portugal um conceito completamente diferente do que existia, inovador e que marcasse a diferença na mecanização das culturas permanentes”, explicou David Gomes. É assim que, após intensa pesquisa e diversas visitas a feiras surge o contacto com a Black Shire, fabricante do robot com o mesmo nome, do norte de Itália. “Iniciámos os contactos há mais de dois anos, não apenas numa perspetiva comercial, mas também de recolha de conhecimento. Inclusivamente, trouxemos os engenheiros da Blackshire a vinhas, olivais, e amendoais de norte a sul de Portugal. A máquina foi pensada inicialmente para o trabalho em vinha, mas a verdade é que rapidamente se constatou a sua adaptação ao olival, por exemplo”, revelou António Vilela.

Faz o mesmo que um trator, mas sem operador
“Todos os trabalhos que um trator faz, este robot pode fazer. Mesmo trabalhar com alfaias descentradas. Pode também trabalhar com alfaias de qualquer marca. A única diferença é que ao invés de a alfaia ser acoplada à tomada de força deve ser instalado um motor elétrico”. A explicação mais curta e direta possível sobre o Black Shire, dada por David Gomes e completada por Roberto Conterno, viticultor na zona de Alba (Itália), e dono da marca Black Shire. “Há mais de dez anos que, enquanto viticultor, acreditava que um operador em cima de um trator era pouco rentável, sobretudo quando se fazem trabalhos muito repetitivos. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma máquina que trabalhasse sozinha”, explicou. “Estas máquinas não se destinam a eliminar a necessidade de mão de obra, mas sim a reduzir a sua dependência e levar a uma canalização da mesma para tarefas onde esta é, de facto, necessária”, completou David Gomes.

Black Shire RC 3075
O nome do modelo “RC3075” vem de Robot Cingolato (robot de rastos), 30 (por ser a terceira versão desenvolvida), 75 (cavalos), e está disponível em larguras entre os 1350 e os 1750 mm e um comprimento de 2100 mm. O motor equipado é um Kubota de 75 cavalos de 3300 cc, “por ser a potência máxima disponível sem necessidade de AdBlue”, explicou Roberto Conterno. O motor diesel alimenta um gerador elétrico que, por sua vez, aciona os motores elétricos dos rastos, tomada de força, e a bomba de óleo para todos os movimentos em que seja necessário (como braços ou cilindros). “A disponibilidade de potência dos motores elétricos é sempre 100%, o que não acontece num motor a diesel, sobretudo se a transmissão for mecânica”, recordou David Gomes em relação ao binário disponível. O depósito é de 84 litros, mas pode ser aumentado. Com transmissão elétrica, o robot atinge velocidades de trabalho até 9,5 km/h, mas existe um opcional que lhe permite chegar aos 12 km/h. Os rastos estão disponíveis em duas versões, de 320mm e 450mm.



Mapear e mandar andar
Em relação ao funcionamento, na primeira utilização é necessário fazer o mapeamento das parcelas em que irá trabalhar, sendo definido através de tablet o ponto inicial, os pontos das cabeceiras, e o perímetro externo da parcela. Nas utilizações seguintes a máquina já poderá trabalhar de forma autónoma ou de acordo com aquilo que o operador definir (totalidade da parcela, apenas uma parte, etc.), bastando dar-lhe a indicação para tal.

O robot partirá do local em que se encontra e deslocar-se-á para o local pretendido, iniciando depois o trabalho. O software de calibração da máquina permite ter acesso a toda a informação do robot, todos os parâmetros e histórico dos trabalhos. Oferece uma visão 360º e avisa o nível de autonomia (o operador pode mandar regressar para reabastecer). A largura de cabeceiras necessária não é superior ao necessário num trator, mas depende sempre de ter, ou não, alfaias acopladas à frente e atrás (nesse caso será à volta de 5 metros). Os dispositivos de segurança (pára-choques) devem ser montados também nas alfaias. O radar equipado na parte superior do robot reduz a velocidade para 5,4 km/h e quando o pára-choques entra em contacto pára por completo o robot.

Alfaias
O Black Shire, tal como um trator “convencional” pode trabalhar com todas as alfaias que o agricultor possuir, desde implementos para mobilização até trituradores, intercepas ou alfaias descentradas. A única diferença é que, para alfaias que utilizem a tomada de força do trator, deverá ser acoplado um motor elétrico em sua substituição. O curso obrigatório por lei para operar o robot são 30 horas.

 

24h/dia, 7 dias por semana
“Esta máquina pode trabalhar 24h seguidas (22h, dadas as paragens para reabastecer, lubrificar, e uma vistoria de rotina). Um trator com um operador faz oito. O custo por hora do robot baixa drasticamente, para metade do valor do trator com operador”, afirmou David Gomes, explicando a que é, na opinião dos responsáveis da Terrabot, a principal vantagem do Black Shire. Para o confirmar, apresentaram um comparativo detalhado com um trator especializado. A análise teve por base uma Casa Agrícola, quinta da empresa, mas a Terrabot está disponível para fazer o mesmo tipo de estudo à medida da realidade de cada cliente bastando, para o efeito, entrar em contacto com a empresa. Segundo a empresa o Robot RC3075 pretende ajudar os trabalhadores a gerir melhor o seu tempo, focando-os nas suas tarefas principais. Podem com ele tirar melhor partido das condições climatéricas e portanto vem dar mais eficácia e produtividade à gestão agricola. A Terrabot refere que o Robot precisa de ser parameterizado, reabastecido e naturalmente ter ainda um trabalho de manutenção e portanto o tractorista ganha aqui uma oportunidade de crescimento, para além de poder assim ficar mais liberto para outros trabalhos que o RC3075 não faz.

BLACK SHIRE
“O primeiro protótipo, com o qual fizemos os primeiros testes em campo, foi montado na adega. Entretanto adquirimos instalações específicas para o fabrico e criámos a Black Shire”, explicou Roberto Conterno. Inicialmente com menos de dez colaboradores, a empresa rapidamente cresceu e hoje já são 40, número que irá aumentar no curto prazo. A ideia é fabricar o máximo possível de componentes “em casa”, seja por questões de controlo de qualidade, seja por uma questão de disponibilidade imediata. A capacidade de produção está nas 70 máquinas/ano, número que deverá chegar às 100 já em 2024. Já com robots a operar em Itália, Portugal é o primeiro mercado de exportação. “A primeira vez que viemos visitar o país foi em Janeiro e acreditamos que o nosso robot se adaptará facilmente. É um mercado com muito potencial para a Black Shire”, afirmou o gerente.

Porquê o nome Black Shire: “Gostávamos da ideia de associar a marca a um animal. Pensámos noutros animais de tração, mas já estavam a ser utilizados por outras marcas. Então pensámos nas raças de cavalos de trabalho, e a raça Shire chamou-nos à atenção, por ser a maior raça de cavalos. Black porque a maioria é de pelagem negra”, comentou.

TERRABOT: A empresa sediada em Torres Vedras foi criada em 2023 por António Vilela e David Gomes, amigos de longa data, ambos profissionais - um prestador de serviços e um agricultor - que realizam todas as operações necessárias em vinhas pomares e olivais (da mobilização à colheita), de norte a sul de Portugal. A Terrabot conta com uma equipa de técnicos especializados e dedica-se em exclusivo à comercialização, pós-venda, aconselhamento tecnológico e assistência técnica dos robots Black Shire em Portugal. “Há um contacto muito próximo com a fábrica e a equipa de engenharia, o que nos permite assegurar uma resposta muito rápida”, explicou David Gomes.

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