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A utilização de ozono na Quinta da Ribeirinha (Parte 1)

17/07/2024

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A Quinta da Ribeirinha
Com um total de 90 hectares, a Quinta da Ribeirinha é composta por 55 hectares de vinha, dos quais 25 são dedicados à produção biológica e os restantes à proteção integrada. Além das vinhas, a quinta possui olival e pinheiro-manso. Mais recentemente, Joaquim Cândido decidiu experimentar a produção de hortícolas entre as linhas da vinha, numa tentativa de aumentar o rendimento por hectare sem sacrificar as videiras existentes.

O desafio das doenças na agricultura
Com a sua experiência médica, Joaquim Cândido tem uma compreensão única das doenças das vinhas, comparando-as com as infeções hospitalares que desenvolvem resistências aos antibióticos. “A minha experiência hospitalar tem muita ligação a este interesse, porque vivi uma experiência idêntica nos hospitais, onde as infeções e as resistências aos novos antibióticos são uma realidade. Na vinha foi exatamente igual. Esta não é uma crítica à indústria química nem farmacêutica, pois são essenciais na investigação e desenvolvimento de novos produtos. O desenvolvimento científico é completamente necessário. Aquilo que defendo é que deve haver maior investigação sobre o que estamos e como estamos a aplicar. Não basta aplicar, por exemplo, um antifúngico numa vinha, é preciso saber qual é o impacto que vai ter no ecossistema. Sabemos bastante sobre a eficácia dos produtos, mas pouco sobre o seu impacto”, explicou.


A introdução do ozono
O ozono, conhecido pelas suas propriedades desinfetantes, surgiu como uma solução promissora. Funciona de forma similar à lavagem das mãos na medicina – reduz significativamente a carga de fungos, vírus e bactérias, sem entrar no ciclo de vida dos patógenos. “Funciona como um desinfetante poderoso, mas transitório pois ao fim de meia hora regressa ao seu estado inicial. Ou seja, durante um determinado período é um poderoso antisséptico que destrói os agentes patogénicos pelo contacto. No entanto, sabemos que o míldio, por exemplo, é uma infeção intracelular, pelo que o ozono não irá curar uma vinha afetada, irá sim reduzir a sua carga e o seu desenvolvimento. O ozono funciona como lavar as mãos”, reforçou Joaquim Cândido.

Resultados iniciais
Em 2023, a Quinta fez a primeira experiência com ozono em toda a vinha, beneficiando também as culturas de hortícolas plantadas entre as linhas de videiras. O resultado foi positivo – tanto a vinha quanto os hortícolas não apresentaram problemas de doenças, e não foi necessário utilizar outros antifúngicos. Joaquim Cândido partilha: “Foi um ano muito rico de aprendizagem, seja ao nível das doses de ozono, concentração, ou velocidade de trabalho do trator. Ao contrário da aplicação, por exemplo, de um antifúngico, em que basta uma aplicação para que o produto entre no ciclo da planta, no ozono é preciso maior insistência. Tal como lavar mãos, é preciso fazê-lo várias vezes, sendo consistente. As doenças das plantas não são todas iguais, em algumas basta uma pequena quantidade, noutras não. Neste momento, já existem estudos que nos mostram qual o tempo e a concentração de ozono que devemos utilizar. Funcionamos com um modelo científico. Tal como sabemos da medicina e da botânica, para matar determinada bactéria é preciso determinada concentração, seja do produto químico ou do ozono, e um determinado tempo de atuação. Apesar de já conhecermos bastante sobre a sua utilização, estamos ainda numa fase inicial, em especial em culturas como o olival. É por isso que formámos um centro de estudos, não só sobre o ozono, com a Escola Superior Agrária de Santarém. Queremos saber qual é o impacto do ozono no ecossistema. Na equipa estão três engenheiros agrónomos, eu, e a Escola Superior. Queremos também envolver a indústria, nomeadamente de máquinas agrícolas, para podermos ter esta tecnologia o mais adaptada possível ao contexto agrícola português. O ozono tem um potencial enorme e que pode e deve ser explorado”.

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